Dezembro – O mês da hipocrisia.
(Jesus chorando pela hipocrisia daqueles que Ele tanto ama)
Chegou mais uma vez uma daquelas alturas do ano em que meio mundo começa a ficar simpático, amoroso, bonzinho, são os sorrisos e os cumprimentos cínicos a quem não falam nem se lembram nos outros dias que perfazem o ano. Ora o ano tem 365 dias, e 366 nos bissextos, mas quando chegamos a Dezembro a hipocrisia aumenta, parece que se esquecem de como são na realidade nos outros dias do ano, de como se esquecem dos seus familiares, dos seus amigos, de quem passa tantas vezes por eles e muitas vezes apenas precisam de um sorriso, de um abraço ou até uma pequena sandes para comer, sim agora veem também os tão afamados cabazes, será que só se come no dia 24 ou 25 de Dezembro, o resto do ano não se precisa de nada, não se come?
Será que somos todos assim tão hipócritas?
Será que quando precisamos de uma mão amiga gostamos de ser ignorados?
Talvez.
O ser humano tem destas coisas, apenas se lembra dos outros nestas alturas pensando que seus pecados ficam perdoados, mas quando é ele a precisar, aí sim, a coisa já não se afigura da mesma forma, aí os outros são cruéis, mas esquece-se de quando ele tinha consigo a forma de poder ajudar a quem mais precisava, claro está há sempre uma ou outra alma que não se encaixa nestas verdades, há ainda alguns poucos seres que se lembram dos outros todos os dias de sua vida, mas são tão poucos que por vezes infelizmente passam despercebidos, não que eles queiram fama pelo que fazem de bom, pois são seres sem qualquer interesse em mostrar que fazem o bem, muitas vezes preferem passar até despercebidos, pois fazer o bem a quem precisa não é mais do que a obrigação daqueles que ainda têm alguma forma de ajudar, sim falo de obrigação moral, aquela que à maioria de nós falta, e que só nos lembramos na altura em que nós mesmos precisamos dessa ajuda, ou para mostrar que somos uns perfeitos anjinhos papudos carregados de bondade nestas alturas do ano, ora a isso eu chamo de hipócritas, falsos, gente que não presta, só faz o bem para se mostrar, convencidos que ganharão os céus ou seja lá o que for que queiramos chamar se comprarmos com estas supostas bondades o coração Daquele que sempre connosco está.
Não, não sou perfeito, muito pelo contrário, defeitos são muitos, mas uma certeza sei que não sou, falso, hipócrita, comprador de pedaços de céu, pois não tenho feitio para isso, abomino tudo isso, gosto de ser quem sou, com as virtudes e imperfeições de todos os dias, e sempre que posso, ajudo, por vezes também não tenho naquela hora, mas um sorriso, um abraço, isso sempre tenho, quanto a comida, se tenho dinheiro que possa ajudar a comprar nem que seja um prato de comida ou uma sandes, o coração se enche de alegria por poder dar e de dor por não poder dar mais, mas dou o que tenho e que posso naquela altura, por vezes queria dar mais, mas nem sempre é possível e isso é que me faz doer, não, não estou aqui a valorizar-me, muito pelo contrário, sou uma pessoa que fala o que tem para falar seja a quem for, não me encolho nem me escondo para não dizer a verdade, ou pelo menos aquilo que sei que a outra pessoa tem para ouvir, mesmo que doa a quem doer, e arrepender-me?, não, sei perfeitamente que pagarei o preço justo por tudo que fiz ou venha a fazer.
Por isso durante estes meus 43 anos de vida sempre me revoltou esta altura do ano, bem sei que quando pequeno, bem pequeno, gostava do Natal, mas era tão inocente que me lembro que o que queria era a “maldita” da prenda e de como o Pai Natal iria entrar pela chaminé quando fomos morar num apartamento, lembro que minha mãe me disse que ele nos apartamentos sempre entrava por uma janela, por isso sempre ia verificar se a janela estava aberta antes de me deitar, mas foi aí que tudo também se fez luz, afinal o Pai Natal não existia, mas mesmo assim durante esse tempo em que acreditava nesse conto de fadas, também sabia da realidade à minha volta, havia muitos que não tinham nada e isso sempre me fazia confusão e sempre me juntava a miúdos de extractos sociais menos favorecidos, muitos deles escorraçados por outras crianças, o que sempre me dava amargos de boca, pois passava eu também a não ter os tais amigos, os chamados amigos da onça ou da oportunidade, mas sobrevivi como tantos outros e aqui estou, fui crescendo e a cada ano que passa menos gostava do Natal, pois via a verdade por detrás da realidade de muita gente. Hoje abomino não o seu significado, muito pelo contrário, mas o que se transformou esse aniversário simbólico, pois segundo muitos Jesus nem nasceu no Inverno, é tal e qual como a Páscoa, ora morre num dia ora noutro em outro ano, mas respeito o significado, mas não os seres que fazem desses dias os piores de sempre, com tanta hipocrisia e cinismo.
Mas a verdade é esta, custe o que custar admitir, o ser humano encontra-se à beira do abismo, um abismo que ele próprio se colocou.
Olhamos para nossos umbigos, deixamos as coisas passar em branco, criamos associações disto e daquilo, criamos dias internacionais e dias mundiais disto e daquilo, mas para quê?, se não nos lembramos do que se comemora nesses malditos dias em outras ocasiões?, somos todos feitos da mesma matéria, nascemos e somos feitos da mesma maneira e acabamos todos da mesma forma, no entanto poderíamos marcar a diferença durante a estadia nesta Terra que habitamos por algum tempo. Mas não, preferimos escutar a voz da maledicência e do egoísmo e sempre fazemos o que não se deve fazer, chegamos mesmo a passar indiferentes à dor dos nossos semelhantes, mas depois chegamos a alturas do ano, tais como esta e viramos santos de pau oco, acomodamo-nos, pois dá muito trabalho e gastamos muitas energias se sorrirmos uns para os outros, se estendemos a mão a alguém que precisa, ou se damos apenas um abraço a quem dele tanto precisa.
Muitos já me chegaram a dizer assim, se não gostas do Natal, então porque o gozas, eu sempre respondo, eu não gosto do que se faz nesta altura, mas adoro um bom feriado, afinal sou humano.
E não se esqueçam de pelo menos oferecer um sorriso ou dar um abraço, mas durante todos os dias que perfazem um ano, seja ele (ano) de 365 ou bissexto, decerto irão sentir-se melhor e tudo que derem terão em troco o dobro, pensem em como é bom ver também alguém sorrir para si ou dar-lhe um abraço, mesmo nas alturas em que você menos merecer, pois aí é que está o verdadeiro amor, a verdadeira dádiva.
Uma vez mais vos agradeço por aqui passarem, deixando um pouco de vós, levando um pouco de mim também.
Beijinhos e xi – corações mil e até breve…
Uma vez mais vos agradeço por aqui passarem, deixando um pouco de vós, levando um pouco de mim também.
Beijinhos e xi – corações mil e até breve…
Alvaro Gonçalves