quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Memórias de Um Louco Feliz
Eu não sou nada de viver ou reviver o passado, mas mesmo nada, mas outro dia mexendo em algumas coisas deparei-me com umas fotos que nunca cheguei a colocar em álbuns, alguma papelada, cartas e outras coisas que fui guardando ao longo do tempo, e claro, curioso como sou comecei a vê-las, e lá passei um bom bocado vendo pedaços da minha história.
E até que foi engraçado reviver alguns momentos, mesmo aqueles que me fizeram deitar muitas lágrimas e me trouxeram alguns pesares, e outros tantos que me deram enormes alegrias, mas tudo isto são coisas da vida, ela é feita de tudo um pouco, e é assim que crescemos e aprendemos a viver.
Lembrei de coisas que pensei já estarem no passado bem esquecidas, tais como quando tinha os meus 5 anos e estava na escola, onde conheci o meu primeiro e grande amigo, era um menino tal como eu, metido para si mesmo, mas muito doente, creio que tinha leucemia, digo isto porque me lembro dele sem qualquer cabelo, sempre com um gorro na cabeça e pela sua fragilidade, lembro que era gozado por muitos outros, bem como também me lembro de ser eu o único que sempre estava a seu lado, e que acabava por ser gozado também por estar sempre tentando protege-lo, lembro que no recreio nos sentávamos nas escadas da entrada para a escola e ali ficávamos até chegar a hora de entrar, outra coisa que também me lembro é da minha professora, não do seu rosto, mas da maneira como nos tratava, era um doce de senhora, sempre compreensiva e amiga, lembro ainda do dia em que escorreguei no chão encerado da sala de aula e bati com a cabeça numa das carteiras, naquela altura acho que perdi os sentidos, pois de mais nada me lembro, só de no mesmo dia estar a tomar um galão com meus pais no hospital, onde me fizeram uns exames que na altura não sabia o que eram, recordo que mais tarde meus pais ficaram a saber que eu sofria de disritmia cerebral, algo que para mim não soava a nada apenas algo que tinha mas não sabia o quê em concreto e quase nem sabia pronunciar, enfim, coisas da vida.
Lembro ainda dos maravilhosos passeios que fazia com meus pais em Moçambique, das idas à praia, de correr atrás dos caranguejos, de andar descalço e minha mãe dizer calça-te que ainda te magoas, e eu fazer ouvidos moucos, até que um dia pisei algo e fiquei cheio de picos nos pés, lembro da maldita hora em que estive chorando e berrando enquanto minha mãe tirava os picos dos pés e os desinfectava, como também me lembro que de nada me serviu os picos nos pés, nem a dor causada pelos mesmos, pois voltei a fazer o mesmo, aliás ainda hoje o faço, adoro andar descalço, nossa detesto algo me apertando o pé, chego mesmo por vezes a sair calçado de casa e acabar descalço com os sapatos, ou sandálias nas mãos.
Ahhhh lembro tão bem o Antoninho, um moço que trabalhava lá em casa, nossa que saudade, como eu era hahaha, muito brincava eu com ele e a Santa paciência que ele tinha comigo, as maldades que eu fazia com ele, as partidas e as palmadas e castigos que minha mãe me dava pelas coisas que fazia de mal com ele, e ele sempre me perdoava, nossa era um Santo, sim porque para me aturar era preciso paciência de santo e ele tinha. Lembro ainda do dia em que minha mãe e eu tivemos aquele maldito acidente de automóvel e quase perdíamos a vida, nesse altura meu pai havia sido operado e estava em casa e minha mãe ia me levar à escola e no caminho um carro fez mal a ultrapassagem e acabou por bater fortemente no carro de minha mãe fazendo com que ela perdesse o controle, lembro de minha mãe saltar para o banco de trás para tentar abrir as portas, pois ninguém as conseguia abrir, lembro que nessa altura minha mãe apenas dizia levem-no que eu estou bem, não tenho nada, e eu a ver que tinha a cara toda ensanguentada, pois havia batido com a cara contra o volante embora tivesse o cinto de segurança, lembro que foi um casal que nos levou no carro deles para o hospital, vim a saber mais tarde que ela era enfermeira e estava grávida, lembro que o nariz de minha mãe estava todo aberto e desfeito e ela apenas preocupada comigo, dizendo sempre que não tinha nada, lembro ainda que enquanto minha mãe foi levada para a sala de operações apareceu meu padrinho e foi com ele que fui dar a noticia a meu pai, nossa como há coisas que ficam gravadas na nossa memória, desse acidente minha mãe teve muita sorte foi o que o médico disse pois mais uns centímetros acima e não estaria ali.
Enfim depois foram tantas as coisas que aconteceram que pouco ficou na memória, sei que viemos para Lisboa pois os médicos disseram aos meus pais que seria bom tirarem umas férias para nos refazermos todos do acontecido e assim aproveitar-mos e estarmos com a restante família e assim foi, mal sabia eu que não mais voltaria a ver a terra que me viu nascer.
Mais tarde e chegados a Portugal fomos passar uns dias ao Algarve, mal sabia eu que seria aí após eu completar os meus 7 anos que meus pais me dariam a noticia que não podíamos voltar a Moçambique, mas assim foi, dali fomos viver para a Costa da Caparica numa casa de uma tia minha e cerca de um ano depois fomos viver para São Pedro do Estoril, lugares que embora bonitos por terem a praia tão perto não significavam nada para mim, mas era a vida que andava para a frente e nós com ela íamos andando.
Mas nem tudo foi triste nesta época, muito pelo contrário, apesar da minha saúde não ser das melhores, o meu grande sonho ia tornar-se realidade e assim foi a 24 de Março de 1975 nascia a minha irmã, um ser que eu havia pedido tanto a Jesus, pois era assim que eu era, não era de falar com Santos, nem de ir à missa, foi educado a fazer apenas aquilo que sentia e assim foi, sempre falava com Jesus pedindo uma irmã, e digo irmã, não era um irmão, tinha de ser uma irmã, minha mãe sempre me dizia e se for um irmão, e eu respondia, pode ser também, mas vai ser uma irmã, e assim foi, lembro nesse mesmo dia fomos para o Vila Nova de Gaia e ficamos em casa de uns amigos que também haviam retornado de Africa e que moravam ali, minha irmã nascia então nesse lindo dia, digo melhor nessa noite, sim pois não fomos antes, minha mãe sempre insistiu em apenas ir no dia, pois tinham de trabalhar, e assim foi após um dia de viagem chegamos e à noitinha às 21 horas menos 10 minutos nascia uma linda e rechonchuda menina, com muito cabelo, preto e todo em pé, era assim minha irmã em bebé (a minha Tin Tin ou a chinoca pois tinha os olhos como os da minha mãe em bico, haahah), lembro que naquela mesma noite a fomos ver, eu e meu pai, entrámos no quarto e lá fomos ver aquela “coisa” linda, mas segundo diz minha mãe eu só as fui ver mesmo depois de entrar no quarto e olhar para um crucifixo que ali tinham e agradecer, com as seguintes palavras, e sito minha mãe, obrigado Jesus por me dares uma irmã, disso não me lembro, mas minha mãe diz que assim foi, lembro de correr para vê-la e lembro do carrinho que recebi de minha mãe nesse dia, era um carrinho que eu há muito eu queria, um mini (ainda o tenho, estou a vê-lo neste exacto momento ali em cima daquela prateleira junto com uns outros de estimação), mas como dizia que há muito eu queria, mas minha mãe me dizia que não dava para comprar tudo o que eu queria e qual foi a minha surpresa quando o recebi naquele maravilhoso dia, nossa duas coisas que muito desejava estavam ali.
Bem e assim foi, depois foi o regressar a São Pedro do Estoril, onde fui um menino como tantos outros, ia à escola, não era um grande aluno, mas um aluno que estava sempre com muita atenção, brincava com todos, mas mais uma vez ali encontrei um outro amigo que era afastado dos outros por ser gordinho (algo que sou actualmente, hahahah), fiz uma grande amizade com ele e todos os dias íamos juntos para a escola, brincávamos tal como todos os outros putos da nossa idade, lembro de brincar a fazer de conta que ia a conduzir um carro, sabem?, ir a correr com as mãos estendidas a fazer de conta que pegava no volante e a fazer o som do carro, até fazia a buzina hahahaha, lembro de uma traquinice que muitos ainda fazem hoje e que irrita muita gente, tocar nas campainhas das casa s e fugir, nossa era tocar e … “pernas para que te quero” ahahhaha
O tempo passou normalmente e dois anos depois meus pais tiveram de mudar tudo novamente por causa do trabalho e foi aí que fomos viver para os Açores, e com essa mudança chegavam também algumas alegrias e tormentas, corria o ano de 1977 e em Outubro começavam as aulas, então foi nessa altura que viemos, lembro que tive muita dificuldade em me adaptar a um meio tão fechado como aquele, onde o pessoal do continente era mal visto, nunca percebi porquê, mas era assim naquele tempo, para meus pais não correu mal, mas para mim, lembro de ser escorraçado pelos meus colegas de escola, de não ter amizades, lembro ainda de me começar a fechar mais em mim, bem como meus problemas de saúde piorarem, foi aí que por força das circunstancias tive de ir a Lisboa fazer exames, pois tinha alturas em que simplesmente estava apenas de corpo presente, o espírito nem sei onde andava, lembro de ter ataques estranhos e de desmaiar, foi aí, em Lisboa com minha mãe e irmã que após muitos exames suspeitaram que sofria de epilepsia, lembro que na altura era um bicho de sete cabeças, todos me olhavam de lado e eu sofria com isso, no entanto esforçava-me por fazer amigos e lá acabei por ter alguns colegas, mas que tanto vinham como logo iam, mas a saúde piorou e além disso os meus nervos estavam um autentico desastre, eu acabava de descobrir que meu pai traia a minha mãe com uma mulher que ele havia trazido de Lisboa, era uma senhora que trabalhava no supermercado mesmo por baixo onde morávamos, ou seja no prédio onde morávamos em São Pedro do Estoril. Lembro que fui eu que disse à minha mãe, embora ela já desconfiasse ou até mesmo soubesse algo, não sabia quem era a tal mulher, que para mim, naquela altura, era uma “inimiga”, lembro ainda da amarga separação, embora minha mãe sempre tivesse feito para que todos fossemos amigos, meu pai não o fez, e isso fez com que tudo em mim piorasse ao ver o sofrimento não só de minha mãe mas também de minha irmã, que junto com o meu acabou por fazer com que minha saúde ficasse num frangalho, mas que fazer?, seguir em frente era o caminho e assim tentei fazer, mas a saúde não o permitiu, tive de voltar a Lisboa para fazer novos exames e nessa altura em 1983 os médicos aconselharam a minha mãe a ir comigo a um dos 3 maiores centros médicos do mundo, ou seja Estados Unidos, Inglaterra ou Africa do Sul para fazerem exames que na altura ainda não se faziam em Portugal, claro está era uma altura má financeiramente pois minha mãe estava desempregada na altura, mas lá se virou e escolheu Africa do Sul, mas só dava para ir eu, pois não havia dinheiro para irmos todos e assim fui a Africa do Sul, onde esperavam por mim os meus padrinhos que me receberam de braços abertos, o tempo passou e os exames foram todos feitos bem como tratamentos e lá voltei para junto de minha mãe e irmã. Os anos foram passando e eu crescendo e fazendo das minhas, mas graças a Deus melhor, muito melhor de saúde, chegavam os 17 anos e eu a desejar começar a trabalhar e estudar à noite, falei disso á minha mãe, ela primeiro ficou meio estranha, mas logo me disse se é o que desejas, assim seja, mas vais continuar a estudar e não penses que arranjar trabalho é fácil, nem que trabalhar e estudar é fácil, mas eu estava determinado, tinha de ajudar a minha mãe a não ficar tão sobrecarregada, ou seja pelo menos ter dinheiro para as minhas coisas e lembro que não foi fácil encontrar trabalho, comecei a estudar á noite, mas trabalho foi difícil de encontrar, então, eu como tinha jeito para fazer trabalhos com as mãos comecei a fazer e a vender em lojas que queriam, embora o dinheiro não fosse muito sempre dava para os vicios, e assim foi até que arranjei o meu primeiro trabalho, retocador de fotografias, nossa começava às oito da manhã até ao meio dia e meia e por volta das duas horas até ás sete da noite, hora essa que em começavam as aulas, mas os professores eram compreensivos (sorte a minha) e embora chegasse tarde sempre chegava quase a meio da aula, tirava apontamentos depois de alguns colegas.
Nessa altura já havia tido os meus primeiros amores, que haviam sido uma desilusão, mas não me fiquei por aí e continuei, vivendo, amando, caindo, levantando, tornando a cair e levantando novamente.
Chegava o ano de 1989 e eu realizava outro sonho, sair dos Açores e regressar a Lisboa, e assim foi, foi algo duro deixar a minha mãe e irmã para trás e ir para Lisboa viver sozinho, se bem que podia ter ido viver com familiares, mas não quis, era o meu grito do Ipiranga, naquela altura tomava muita medicação, ora para a epilepsia ora para os nervos que eram uma desgraça, ora para dormir e tudo isto medicado pelos médicos do Hospital de Santa Maria, cheguei mesmo a passar por um médico psiquiatra no Júlio de Matos, mas nunca e graças a Deus, digo mesmo nunca precisei de algo mais, tal como ser internado, mas brinco com isso tudo, pois certo dia fui a uma consulta no Júlio de Matos e o médico apenas passou uma carta para a minha médica do Santa Maria, carta essa que eu abri, claro está ahhaah, e qual não foi o meu espanto, a carta estava em branco, era apenas um papel em branco assinado, nossa cheguei à minha medica no Santa Maria e disse-lhe, Doutora já tenho carta branca, nem no Hospital dos “malucos” me querem hahah ao que ela se riu e mais ainda ao ver aquele papel em branco assinado pelo médico, ainda hoje guardo essa carta em branco desse médico do Júlio de Matos e muitas são as vezes que brinco com isso. Mas foi nessa altura em Lisboa sozinho que resolvi me livrar de quase toda a medicação, falei com a médica, ao que ela me disse que não podia ser, e mesmo que pudesse teria de ser aos poucos, isso não me agradou em nada, então de um dia para o outro larguei tudo, jogando na sanita a medicação, ficando apenas com a medicação para a epilepsia o que me causou uns bons amargos momentos, mas que sobrevivi e sozinho, só voltado à medica após 3 meses para lhe dizer que já não tomava nada a não ser o tal da epilepsia, ao que ela me chamou de “louco” e me perguntou como o fiz, e eu só lhe respondi, foram dias a fio sem dormir praticamente nada e ter sempre os nervos à flor da pele, foi nessa altura que aproveitei para ler, lia tudo que me aparecia pela frente, fazia caminhadas de dia para o trabalho e á noite até ficar cansado o que era difícil tal era a energia dentro de mim, mas consegui, foi mais uma “lança em Africa”, ou seja mais uma conquista minha.
Bem o tempo passou e eu trabalhava e tentava estabelecer-me melhor para conseguir voltar a estudar, aproveitando para viver a vida ao máximo, saia todos os dias à noite, fazia noitadas percorrendo todos os cantos e recantos de Lisboa e não só, passava os finais de semana sempre que podia e tinha dinheiro suficiente em qualquer outro lugar, enfim vivi tudo a que tinha direito cometendo loucuras umas atrás das outras das quais nenhuma me arrependo. Fiz asneiras das grandes, cometi loucuras mesmo que nem me atrevo a contar pelo menos agora, mas vivi e amei todos os momentos até os amargos, acreditem, não me arrendo de nada nesta vida, tudo o que fiz até agora de bom, ou de mau, fi-lo, o bem, recebi de volta, o mal tive o troco, paguei o que tinha para pagar e assim continuo pensando e vivendo. Tive amores e desamores, fiz de tudo um pouco, os estudos ficaram no “galheiro” claro está, mas não me arrependo, pois vivi o que queria viver no momento. Algum tempo mais tarde fiquei desempregado, vivi ainda um ano e meio do que tinha juntado e do subsidio de desemprego e procurando emprego em todos os cantos, encontrei alguns biscates aqui e ali e foi assim que vivi até à altura em que por motivos financeiros e por me ter inscrito em dois cursos, um em Lisboa e outro nos Açores, tendo saído a minha inclusão no curso de Informática nos Açores e assim regressei àquele lugar fechado, onde as pessoas sabem da vida umas das outras e onde estavam a minha mãe e irmã, mas regressei diferente, com vontade de viver tudo e cada momento o melhor que pudesse. Acabado o curso era suposto ficar integrado no mercado do trabalho, mas como sempre nestes cursos apenas as promessas são feitas e fiquei no desemprego, voltei então a estudar à noite, mas a vontade era pouca, no entanto continuei, e durante o dia procurava trabalho, não foram tempos fáceis, parecia que tinha andado de “cavalo para burro”, mas que fazer?, tinha de continuar, mas isso de não ter trabalho, estava dando comigo em doido, sentia-me meio perdido novamente dependendo de tudo da minha mãe, mulher de grande fibra que nunca se queixou de nada, uma lutadora e um grande exemplo para nós (eu e minha irmã), o tempo passou e eu acabei por conhecer acidentalmente uma instituição que ajudava toxicodependentes, e pessoas com sida, acabei por me interessar por conhecer cada vez mais o trabalho dessa gente que era posta à margem da sociedade apenas porque ajudava pessoas que tinham tido “azares na vida” e acabei eu por me tornar um defensor acérrimo dessa Instituição oferecendo-me para fazer trabalho voluntário com eles, fazia de tudo um pouco e embora por vezes saísse de tal forma cansado dali, saia com um sorriso sempre, não recebia nada a não ser a satisfação de ver de alguma forma estava sendo útil em alguma coisa. Sem nunca deixar de procurar em prego na mesma. Tempos mais tarde encontrei trabalho, mas continuei a fazer voluntariado nas horas vagas em especial aos fins de semana e assim foi durante muito tempo até que alguém lá conseguiu mandar fechar aquela Instituição e eles ficaram apenas em Lisboa e eu com horas vagas e desempregado novamente, nossa acabei eu por cair numa depressão, tratei-me e ao mesmo tempo procurei emprego, desta vez foi mais fácil, encontrei pouco tempo depois, mas os estudos ficaram para trás, não continuei, não porque não tivesse possibilidade, mas porque quis parar, quis tratar-me da depressão e trabalhar, mas sabem como é, mal a gente se sente melhor, pensa que se está curado, mal sabia eu que voltaria, só que desta vez foi pior, pois uma recaída é sempre pior, mas não parei de trabalhar, no entanto esta sociedade não perdoa nada, e eu estava vulnerável e assim andei durante alguns anos até que cai, mas cai no “poço” do qual não conseguia sair, a depressão foi tomando conta de mim e eu não lutei contra, acabei por me entregar de tal forma que fiquei em casa, nessa altura já tinha trabalho fixo, não era nada a contracto. Minha irmã entretanto já havia casado e tido um filhote, coisa mais lindo do tio, nossa era mais uma paixão minha, mas nem mesmo tudo isso me alegrava já, comecei definhando a tal ponto que dei por mim já não querendo sair de casa, depois nem do quarto e mais tarde nem da cama, o único escape foi a Internet, mas nem mesmo isso me interessava, quase deixei de andar, as forças essas haviam saído deste corpo, para onde não sei, acabei por bater no fundo do poço mesmo, foi aí que e mais uma vez com a ajuda de minha mãe consegui tomar a decisão de sair, mas foram dias e dias, digo mesmo durou cerca de 3 meses para sair dessa maldita depressão, comecei por ser radical novamente, pedi ajuda para sair de casa, para dar uma volta mesmo ali no bairro, mas as pernas estavam fracas, eu estava mais do que um farrapo, mas consegui aos poucos fui saindo e finalmente sai, lutei com todas as forças, com fé e com a ajuda de minha mãe e do amor que eu sentia (e sinto) por ela, e por minha irmã e meu sobrinho. E assim foi mais uma barreira que consegui ultrapassar, mais tarde vieram outras recompensas, conseguia finalmente comprar uma casa, com empréstimo no banco tá claro, mas consegui, tive alguns percalços mais tais como uns “amigos” (julgava eu) que me disseram a pé firme que não iria conseguir, mas não perdi a esperança, nem a fé em mim, nem em Deus, e lá consegui a casa, um apartamento pequeno, mas bem jeitoso e mesmo à minha medida, claro está minha mãe já estava reformada, e veio comigo, hoje estamos aqui, passei por mais alguns maus bocados que venci, redescobri-me, aceitei muita coisa em mim que não aceitava. Mais amores e desamores vieram, novas amizades fortes e firmes foram feitas, muitas através deste “bichinho” chamado de Internet, mas amizades fortes, daquelas com quem posso contar e que já me ajudaram em muito, por isso sempre digo, nunca se esqueçam que por detrás deste ecrã “frio” se encontram pessoas verdadeiras, com sentimentos, com alegrias e tristezas em suas vidas, e temos de ser amigos, saber como falar, saber ama-las do jeito que são, aceita-las e desejar sempre o melhor para elas, afinal eu ou tu também somos essa pessoa atrás do ecrã para as outras.
Ahhhh dos grandes amores que vivi devo ainda dizer que fui um pouco “internacional”, meu primeiro amor foi português, os outros que se seguiram, e foram tantos, foram espanhóis, italianos, franceses e suíços, amores esses que deixaram lindas e maravilhosas recordações, tive de tudo um pouco, tive ainda “amores e paixões” de um dia, de semanas, de meses vividos intensamente, ou loucamente, dos chamados amores de um dia, ficaram as recordações de um dia lindo maravilhosamente passado, dos amores de semanas ficaram intensos momentos, loucamente vividos, dos amores que duraram mais, ficaram além dos dias, semanas e meses, momentos loucos, ficaram também as fotos, as cartas, os postais, os presentes trocados, alguns desses guardados quase que religiosamente numa caixinha que está sempre junto de mim no meu quarto, mas esses amores não se ficaram no passado, alguns foram vividos há pouco tempo, creio que um dia, talvez daqui a muitos anos e muitos anos, assim espero, alguém abra essa caixa e veja a suas belezas que não só guardei mas irei guardando ao longo de mais anos que viva.
Muito, mas mesmo muito mais podia contar-vos, mas fica para uma outra vês, quem sabe, entretanto a vida continua e mais amores e desamores virão, alegrias, tristezas e conquistas virão, mas eu, eu estou aqui de pedra e cal, pronto para o que der e vier, vivendo, amando e aprendendo mais e mais a cada dia que passa. Já lá vão 42 anos desde aquele bonito dia 16 de Setembro pelas 15 horas e dez minutos, na cidade de Lourenço Marques e muitos mais virão.
Beijos em vossos corações deste LOUCO FELIZ, para todos que por aqui passam, que deixam um pouco de si e levam um pouco de mim.


Alvaro Gonçalves




P.S. : Se não nos virmos mais aqui no Blog até ao Natal aqui fica desde já o meu desejo de umas boas festas e que NATAL seja todos os dias de nossas vidas e que o ano que está prestes a chegar nos traga tudo que mais precisamos.
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