quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Não sei ser contido,

"...discreto.
Brigo em voz alta, rio em voz alta, sinto em voz alta.
Sou feito de barulho e de verdade.
Murmúrio não faz parte de mim e quem não gostar, que tape os ouvidos."

Renata Fagundes
 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Ele não passa de...


...um velho, careca e sabe-se lá mais o quê..., por detrás daquela máscara que ele se veste diariamente, encontra-se um ser que nunca soube viver sem ser com o coração.
Ele escuta música, vê vídeos de filmes românticos, tipo My Best Friends Wedding, última cena entre Julia Roberts e Rupert Everet, ele não sabe viver (talvez nunca tenha sabido mesmo), cuida de uma mãe doente, deixa que a sua irmã, seu cunhado e outros que tal o culpem de tudo, inclusive de ter inventado que a mãe sofre de uma doença grave e degenerativa, mesmo tendo todos os relatórios médicos de sua mãe comprovando que a senhora tem essa maldita doença.
Ele deixa-se pisar pelos outros, tem medo de perder o emprego, pois na atualidade todo o cuidado é pouco (embora em tempos idos e já quase esquecidos, ele soube aventurar-se e talvez viver, ou não????), perdeu aquela força que em tempos teve, ele não vive mais, ele sobrevive para..., para quê?, nem ele sabe.
Sabe que se encontra com uma profunda depressão, quer física, quer psicológica, sente que o seu fim está próximo, e vive esperando “um milagre” de um dia voltar à vida, encontrar um amor verdadeiro, de ser feliz, mas no fundo sabe que seu tempo se está a acabar e que nada disso se vai tornar realidade, mas finge para si mesmo que sim, afinal, ele nada mais tem do que se agarrar a sonhos impossíveis de se realizarem.
Ele já não sabe quem é sequer e porque está ainda vivo, mas...pensando melhor, será que ele alguma vez ele soube alguma coisa?
Ele parou no tempo... ou será que ele alguma vez viveu... e em que tempo?
Resumindo: ele não passa de uma farsa de si mesmo.
 

Álvaro Gonçalves Correia de Lemos

 

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Não sei o que se passa ao certo, só sei que algo se passa...

Dentro de mim jorra uma profunda agonia, uma tristeza sem fim,
E ao mesmo tempo uma vontade enorme de ser feliz,
São sentimentos contraditórios estes os meus.
Sinto-me quase sem vida, mas em mim ainda jorra uma esperança de paz, de amor, de vida.
Porquê estes sentimentos tão antagónicos, e como podem eles viver, habitar ao mesmo tempo o mesmo ser - eu?
Que fiz eu para viver esta tortura tão horrível, será que durante meu caminhar virei e continuei virando para o lado errado?
Será que tentar cuidar de seres que de mim precisam e que mais ninguém têm, me faz assim ficar?
Será que me esqueci de mim?
Talvez, mas onde estou eu no meio a este emaranhado?
O ar falta-me, as agonias aumentam, o coração acelera mas descompassado, a mente diz uma coisa, mas outra metade de mim fala outra, estarei eu enlouquecendo?
A morte já a desejei tantas vezes, que perdi a conta, mas acho que nem depois de morrer este coração ou mente irão parar, tudo porque estou ainda muito apegado à vida com esperança e por vezes sem ela.
Já vivi tanto, mas perdido fiquei por essa vida, cometi erros, muitos mesmo, mas não me arrependo, paguei por eles e sigo pagando por cada um, se me perguntarem o que mudaria na minha vida, não, não mudaria nada, fiz tudo da minha maneira, da forma que sabia e sigo fazendo o mesmo, seja bom ou mal, mas quem pode dizer que esta é a pior maneira e aquela a melhor?, se não viveu e não calçou meus sapatos?
Por vezes acho engraçado, por outras de péssimo gosto me dizerem, tem paciência Álvaro, quando não calçaram os meus sapatos, não sabem os trambolhões que dei para aqui chegar, ou as gargalhadas que dei, as quedas e as vezes sem conta que me levantei, mas têm a a lata de me dizer tens de ter paciência meu amigo, ora essa e eu?, onde fico eu?, onde estou eu?, que quase aos 50 anos deixei tudo, perdendo a vida ou não, tomei essa opção, sim foi tomada por mim, mas não venham com: tem paciência amigo. Estou cansado de ter paciência de viver em função da vida dos outros, já nem sei mesmo o que é viver e muito menos amar, vivo feito um robô mecanizado fazendo de tudo e mesmo assim, nada chega para ninguém, por vezes sinto-me o último lixo num grande contentor.
Choro, e torno a chorar, e quantas vezes ás escondidas porque quem de mim precisa não precisa de mais tristezas, até de meus amigos omito um montão de coisas, não quero que tenham pena de mim, não sou ave para ter penas, sou um ser humano meio simples meio complicado, coberto de amarguras, tanta coisa omiti eu ao longo destes anos para que ninguém se preocupasse comigo, pois já tinham tanto em que pensar, hoje, meu ser não suporta nem mais um pouco de nada, talvez amanhã, ou depois de amanhã, sim, quem sabe amanhã ou depois de amanhã.
Detesto falar de mim, mas quando encontro outra forma de falar eu escrevo, é uma forma de falar à qual me habituei, sendo de poucas palavras e meus olhos dizendo demais, oculto-os com os mais diversos óculos escuros mesmo quando chove, porque me denunciam, e não gosto de ser traído pelo meu próprio ser, por isso escrevo quando a vontade é grande, quando não suporto nem mais um milímetro de tanta coisa.
Enfim, não sei se isto é viver, já nada sei de nada… apenas sigo... até cair um dia.
 
Alvaro Gonçalves

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Controlar a Timidez

Nunca consegui controlar a timidez. Quando tive que enfrentar em carne viva a incumbência que nos deixou o pai errante, aprendi que a timidez é um fantasma invencível. De cada vez que tinha que solicitar um crédito, mesmo dos combinados de antemão em lojas de amigos, demorava horas em redor da casa, reprimindo a vontade de chorar e as contracções da barriga, até que me atrevia por fim, com as mandíbulas tão apertadas que não me saía a voz. Havia sempre algum comerciante sem coração para me atrapalhar ainda mais: «Miúdo parvo, não se pode falar com a boca fechada.» Mais de uma vez regressei a casa com as mãos vazias e uma desculpa inventada por mim. Mas nunca mais tornei a ser tão desgraçado como da primeira vez que quis falar pelo telefone na loja da esquina. O dono ajudou-me com a operadora, pois ainda não existia o serviço automático. Senti o sopro da morte quando me deu o auscultador. Esperava uma voz serviçal e o que ouvi foi o latido de alguém que falava no escuro ao mesmo tempo que eu. Pensei que o meu interlocutor também não me ouvia e levantei a voz tanto quanto pude. O outro, enfurecido, também elevou a sua voz: 

- E tu, porque carago me gritas!

Desliguei, aterrado. Devo admitir que, apesar da minha febre de comunicação, tenho ainda que reprimir o pavor do telefone e do avião e não sei se me vem desses dias. Como podia conseguir fazer qualquer coisa? Por sorte, a minha mãe repetia com frequência a resposta: «É preciso sofrer para servir.»

Gabriel García Marquez, in 'Viver para Contá-la' 

domingo, 4 de setembro de 2016

"Pardonnez-moi, la vie m'est insupportable"

A cada dia que passa, mais eu sei e compreendo a última nota da cantora Dalida, pois é cada vez mais o que eu sinto.
"Pardonnez-moi, la vie m'est insupportable" (Me perdoem, a vida se tornou insuportável para mim).

Alvaro Gonçalves

domingo, 31 de julho de 2016

Saudades de mim (2)


Saudades do Sol,
Saudades da vida,
Saudades do Luar,
Sim, saudades de quando
a criança que em mim vivia
se sentia criança,
Saudades de sorrir,
Saudades de viver,
Saudades de mim,
perdido algures no tempo.
Saudades de ser criança,
Saudades de te ver,
Saudades de te sentir,
Saudades de brincar descalço
na terra que me viu nascer e
que eu pensei que um dia
me receberia em seu regaço
para o sono eterno.
Saudades de ser quem um dia fui,
Saudades da inocência perdida,
Saudades de ser amado,
Saudades de sentir o amor,
Saudades...
Perdeu-se em mim o
único ser que tinha
interessa nesta vida e
temo que não voltará mais.
Sim, sinto loucamente saudades
de mim, perdi-me... e não me
encontro e temo não voltar
a reencontrar-me antes de partir.
Saudades de mim...
Álvaro Gonçalves

segunda-feira, 11 de julho de 2016

A minha vida...


... tem dado tantas voltas e revoltas, que cheguei a um ponto que já não sei mais o que fazer, tento viver um dia de cada vez, mas está difícil, mesmo muito difícil, porque mesmo tentando viver um dia de cada vez as coisas acontecem de tal forma que me forçam a pensar no amanhã, não somente meu, mas de minha mãe que sofre de Alzheimer.
Enquanto isso eu luto todos os dias para ajudar o melhor que posso e sei a minha mãe, que a cada dia que passa se sente mais em baixo, triste e entrou numa fase de depressão, como se não lhe chegasse a doença de Alzheimer, a diabetes, o coração, osteoporose, tiroide e em janeiro do corrente ano devido à avançado estado de osteoporose partiu uma vertebra, a L4, tem vindo a recuperar muito lentamente, mas tem, com muitas dores, e tem de usar um colete para a ajudar a suster a coluna e não a magoar mais, mas aquela maldita doença, Alzheimer, tira-a do seu eu normal e ela faz de tudo um pouco que não deveria fazer, tenho pedido a Deus que me dê forças e saúde, bem como a minha mãe, ELE tem me ajudado, embora a gente sempre ache que é pouco.
A medicação a ela não lhe falta graças a Deus, mas depois de comprar para ela, a minha fica no galheiro, não me arrependo, mas já estou a pagar por essa falta de medicação, diabetes, coração, epilepsia, nervos e uma grande depressão.
Enfim, desculpem este desabafo, sabem, estou tão cansado, mas tão cansado que tem dias que já não sei nada, só que quero desaparecer.
Mas sei que sem mim, minha mãe fica só neste mundo, sem ninguém que cuide e a ame tanto quanto eu, sei que vou fazer 49 anos, quase meio século e que dediquei a minha vida a minha família, que perdi toda uma vida que poderia, ou não ter tido, mas imaginemos que tinha alcançado mil e uma coisas na minha vida, uma pessoa que me amasse, um companheiro (sim, sou homossexual e não tenho vergonha de nada disso, tenho orgulho de ser quem sou e como sou.), tivesse um trabalho onde ganha-se muito, tivesse uma casa com tudo de bom, de que me serviria tudo isso se faltava a pessoa mais importante na minha vida, a pessoa que me criou, que me deu vida, que tem sido meu anjo há quase meio século?, ainda para mais sabendo do seu estado de saúde?, eu sei, eu nunca seria feliz, embora hoje sinta tanta falta de um companheiro que me ame, que me ajude a sentir-me melhor, com quem dividir os bons e os maus momentos e vice versa, mas quem é que deseja uma pessoa assim como eu, que vive sempre apertado, sem dinheiro para quase nada, que saí de casa para levar a sua mãe para um sitio onde possa estar bem, até eu sair às 20 horas, e depois saio do trabalho, vou busca-la e vamos para casa, tratar dela, da casa, do jantar e das coisas para o dia seguinte, (não tenho sequer tempo, para mim, mentira, sempre tento tirar uma hora por volta da 1 da manhã até ás 2 da manhã para ir à internet ouvir música, ver algum vídeo) e depois cama, para no dia seguinte, aliás já nem é no dia seguinte, são apenas algumas horas depois às 7 da manhã.
Eu sempre disse e continuo dizendo, não me arrependo de nada do que fiz, só do que não fiz, e é a mais pura verdade.
Desculpem-me o desabafo, mas tinha de “deitar para fora” alguma coisa, pois ando tendo pensamentos ruins e preciso falar e criei este Blogue, Perfil, porque é sobre mim, sobre o sinto, sobre o que sou e muito mais, sobre mim, por isso lhe dei o nome de Perfil (o meu), e sim, publico pouco por vezes, mas é quando não consigo verbalizar, eu escrevo.
 
Alvaro Gonçalves

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Lembro como era bom...

"... compartilhar minha felicidade com os amigos, falar pelos cotovelos sobre alegrias que soavam até ofensivas àqueles que não entendiam o que se passava no interior de um corpo em festa. Eu costumava ser uma alegoria ambulante. Agora a festa terminou, os copos estão espalhados pelo chão, os pratos sujos, silêncio absoluto, ficou o vazio devorador de uma solidão impossível de ser contada."
 
 
Martha Medeiros

domingo, 1 de maio de 2016

Eu...

"... não deixo ninguém pra trás. É que algumas pessoas me perdem um pouco a cada dia e nem percebem."
 
Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Quando vier a primavera

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na
Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem
importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de
amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de
vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
 
 
Alberto Caeiro, in “Poemas Inconjuntos” Heterónimo de Fernando Pessoa
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