sábado, 30 de março de 2013

Feliz Páscoa - O Menino Jesus

Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas pelas estradas
Que vão em ranchos pela estradas
com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas.
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou —
"Se é que ele as criou, do que duvido" —
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansados de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
e eu levo-o ao colo para casa.
.............................................................................
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?

Alberto Caeiro. In O Guardador de Rebanhos
VIII - Num Meio-Dia de Fim de Primavera

quinta-feira, 28 de março de 2013

Que...

...minha solidão me sirva de companhia. Que eu tenha a coragem de me enfrentar. Que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse pleno de tudo.


Clarice Lispector

sábado, 23 de março de 2013

A Música e eu…

A música, ora esta maravilha que todos (ou quase todos gostamos, embora eu não acredite que haja alguém que não goste, há é gostos diferentes e formas de a vivenciar diferentes) gostamos de escutar, seja ela Clássica, Pop, R&B, Jazz, Rock, Metálica, Popular, enfim, a música, “doce” que nos acompanha em vários momentos da vida.
Na minha ela faz parte integral de mim, ela é uma parte de mim, da qual eu não consigo me desligar, não consigo viver, é meu alimento desde sempre, talvez muito pela influencia que tive desde sempre, senão vejamos.
Mesmo antes de nascer, já escutava música, todo o tipo de música, meus pais trabalhavam na antiga Rádio Clube de Moçambique e eu mesmo ainda na barriga da minha mãe era “forçado” a escutar, pois minha mãe trabalhava na discoteca da Rádio, na classificação e distribuição da música pelos diversos programas da rádio, já meu pai, esse, era locutor, o que fazia com que muitas das vezes mesmo em casa se escutasse música, ora porque sempre um ou outro gostavam de escutar alguma, ora na preparação de programas, sempre com a ajuda da minha mãe, daí que eu diga que a música faz parte integral de mim, do meu ser.
Mesmo os amigos mais próximos dos meus pais, trabalhavam directamente ou indirectamente com música, oh porque também eles eram locutores, ou actores, ou cantores, enfim, vi sempre rodeado de música, durante anos, quer eu quisesse ou não.
Quando nasci, nasci no meio deste ambiente e nele fui crescendo, tendo cedo começado a aprender a apreciar todo o estilo de música, comecei ainda a associar esta ou aquela música a momentos da minha vida, momentos esses que eu diria sempre vividos intensamente, por vezes digo que a minha história poderia ser contada através da música, e com ela poderia “escrever” uma “biografia” onde os outros que a escutassem saberiam vivenciar todos os momentos pela qual eu passei, ou estou passando.
Esse hábito que não perdi, um hábito já tão enraizado em mim, que por mais que eu tente desligar, não consigo, chego a ser um verdadeiro “CHATO” no que diz respeito à música, tem dias, momentos, horas em que uma, duas, três ou mais músicas eu fico escutando tantas, mas tantas vezes, que o(a) “pobre” desgraçado(a) que estiver junto de mim, acaba por se fartar de escutar a mesma, ou mesmas músicas, esses momentos são momentos que eu preciso urgentemente escutar aquela, ou aquelas músicas, pois só elas me entendem, me tocam, me sentem e me fazem sentir bem, nada mais, e digo e reafirmo, nada, ou quase nada mais me faz sentir melhor que escutar aquelas músicas, mesmo que repetidas vezes e vezes sem conta, mas se por um lado sou capaz de escutar música pop, passo da mesma num passo de mágica para um jazz, ou de uma clássica para um rock, são momentos, são instantes de vida, são sentimentos vividos intensamente, da qual não sou capaz de abdicar, diria mesmo, no dia em que eu não puder escutar música, eu “morrerei”, e não falo num sentido trágico, tipo tragédia grega, ou como queiram chamar, mas num sentido em que algo dentro de mim se quebrará para todo o sempre e não voltarei a ser nunca mais a pessoa que sou, são 45 quase 46 anos a viver, a sentir, a amar, a transmitir sentimentos e a vivencia-los assim.
Provavelmente já se perguntaram o porquê de estarem a ler hoje algo “tão estranho” como esta conversa / desabafo / relato ou como quiserem chamar, mas a verdade é uma só, apeteceu-me faze-lo, deu-me uma enorme vontade de partilhar, de escrever, de falar sobre mais este assunto, sobre mais um pouco de mim, por isso aguentem, quem me lê, quem me conhece, quem já segue este Perfil, o meu perfil há algum tempo, saberá que aqui, neste cantinho, tudo vem por um só motivo, porque faz parte do meu perfil, da minha vida, dos meus sentimentos, porque quando não consigo verbalizar determinadas coisas…, eu escrevo.
Eu sou assim, eu vivo as coisas de uma forma um tanto estranha para uns e de uma forma simples para outros.
Conhecer-me, não é só falar comigo, não é só “ler-me”, ou escutar-me, conhecer-me é uma questão de tocar-me..., e claro, também de escutar a música que está passando naquele momento.
Enfim, hoje fico por aqui, deixo-vos na companhia de My Way, na voz de Frank Sinatra, numa das belas interpretações desta música que ilustra melhor que nunca como sou, pelo menos um pedacinho mais.
Beijinhos e xi – corações para quem por aqui passa deixando um pouco de si, levando um pouquinho de mim.


Álvaro Gonçalves

quarta-feira, 20 de março de 2013

Minha alma...

...tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.

Clarice Lispector

terça-feira, 12 de março de 2013

A vida...

...esconde nos lugares mais simples sua grande beleza que revela qual o significado de porque persistimos em continuar vivendo.

Pablo Neruda

sábado, 9 de março de 2013

Acredito...

...que mais forte que a sabedoria é a imaginação.
Que mais potente que a história é o mito.
Que a esperança sempre triunfa sobre a experiência.
Que a única cura para a dor é o sorriso.
Que mais poderosos que a realidade são os sonhos.


Robert L. Fulghum

sábado, 2 de março de 2013

“Confissões”

Quando a solidão e a tristeza entram em seu coração e alma, elas causam uma forte dor, dor essa inimaginável, mesmo que você tenha sempre Deus a seu lado, se aqueles que dizem ama-lo se afastam, mesmo sem se darem conta, sem culpa, pois suas vidas também estão atribuladas, mas para você tudo isso não faz sentido, pois para você, a solidão dói, e não há nada pior que a solidão, aí, a dor, aumenta, mas você segue, coloca aquele “sorriso” nos lábios e faz das “tripas coração” para que tudo dê certo, mas quando você chega a casa, e fica a sós consigo mesmo, aí, você tira aquela máscara já usada, suja, imunda, de tão falsa que é, e volta a ser você, um ser em solidão, aí, você já não é mais capaz de disfarçar, porque para você mesmo, a dor é tão forte que nada, nem ninguém que te diga alguma coisa, vai fazer diferença.
Aí seus pensamentos divagam, deambulando de um lado para o outro e você não se sente capaz de parar, passam aquelas “bobagens” pela cabeça e você as afasta como se fugisse do diabo, você pensa em fugir, desaparecer, sumir, evaporar, largar tudo e simplesmente sair por aí sem rumo, sem “dono”, sem nada, mas aí você cai na “real” e vê que não vale a pena nada disso, um dia você vai ter de voltar, e seus problemas vão estar aqui à sua espera e ainda maiores, você vê que aquela pessoa que depende de si quase para tudo, porque a sua mente já não é aquilo que um dia foi, que as forças dessa pessoa já não são quase nenhumas para fazer uma vida normal, que a mente dessa pessoa está a pregar-lhe partidas tão grandes que muitas vezes essa pessoa já não é aquela que você viu ao longo da sua vida, que a agressividade e as acusações que essa pessoa profere contra você não são e nunca seriam vindas dela se não fosse a sua doença, mas os sentimentos esses sim são ainda maiores, suas dores são maiores e que essa pessoa vai sofrer tanto que não vai aguentar essa dor, aí você vê que a única saída é continuar em frente, mesmo que você também já esteja no limite das suas forças e se sinta só, mas você sofre, e continua a sofrer, chega uma altura em que já nem você sabe como tudo começou, se o culpado é você, se foram acontecimentos da vida que se acumularam e você não ligou na hora e foi dizendo para si mesmo, que tudo está bem, mas aí, tudo fica uma bola tão grande que você já não consegue driblar essa mesma “bola” e joga-la pra frente…
Aí a solidão, a tristeza tomam conta de você e por mais que você procure uma saída, você já não a vê com a clareza que veria se tudo estivesse bem.
E os dias vão passando e você vai caindo num fosso tão grande que para sair vai ser difícil, você vai precisar de ajuda, mas quem vai ajudar você?
Se você é crente, você se agarra de “unhas e dentes” à sua Fé, a Deus, e Lhe suplica que o ajude para seguir em frente, para sair desse fosso, mas nem sempre essa solução é suficiente, você já precisa de algo mais e aí você suplica vezes e vezes sem conta a Deus que lhe mostre um caminho, que apareça alguém em sua vida que também o ajude, mas onde está essa pessoa, se você sentiu tudo e todos se afastarem e ao mesmo tempo se afastou você mesmo de tudo, porque para você quando dói, quando a dor é forte, você tem vontade de ficar sozinho mesmo que por um pouco, mas o pouco acaba por se tornar um muito, muito tempo, tempo suficiente para você já não conseguir enxergar nada nem ninguém, mesmo quando alguém se aproxima de você.
Aqui me confesso, hoje, neste momento, não está sendo fácil, mas espero conseguir, afinal não sou de quebrar fácil, sou de vergar, mas quebrar, não, isso não, por isso tenho fé que eu desta vou sair, quando?, não sei.
Por isso vou “sorrindo”…, porque viver ainda assim, é bom, mesmo quando dói…
Esta é a verdade da vida!!!


Álvaro Gonçalves

 
 
P.S. Que me desculpem aqueles 3 ANJOS que apareceram vindos de tão longe e me têm dado um grande apoio nestes últimos dias, se por algum acaso esta "confissão" que aqui faço, os fere, não me levem a mal, pois não estão incluidos nestes seres que dizem amar-me e que no fim, se afastam quando mais preciso, não direi nomes, mas eles sabem quem são e isso é o mais importante, o meu eterno obrigado a esses ANJOS.
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