Nunca consegui controlar a timidez. Quando tive que enfrentar em carne viva
a incumbência que nos deixou o pai errante, aprendi que a timidez é um fantasma
invencível. De cada vez que tinha que solicitar um crédito, mesmo dos
combinados de antemão em lojas de amigos, demorava horas em redor da casa,
reprimindo a vontade de chorar e as contracções da barriga, até que me atrevia
por fim, com as mandíbulas tão apertadas que não me saía a voz. Havia sempre
algum comerciante sem coração para me atrapalhar ainda mais: «Miúdo parvo, não
se pode falar com a boca fechada.» Mais de uma vez regressei a casa com as mãos
vazias e uma desculpa inventada por mim. Mas nunca mais tornei a ser tão
desgraçado como da primeira vez que quis falar pelo telefone na loja da esquina.
O dono ajudou-me com a operadora, pois ainda não existia o serviço automático.
Senti o sopro da morte quando me deu o auscultador. Esperava uma voz serviçal e
o que ouvi foi o latido de alguém que falava no escuro ao mesmo tempo que eu.
Pensei que o meu interlocutor também não me ouvia e levantei a voz tanto quanto
pude. O outro, enfurecido, também elevou a sua voz:
- E tu, porque carago me gritas!
Desliguei, aterrado. Devo admitir que, apesar da minha febre de comunicação, tenho ainda que reprimir o pavor do telefone e do avião e não sei se me vem desses dias. Como podia conseguir fazer qualquer coisa? Por sorte, a minha mãe repetia com frequência a resposta: «É preciso sofrer para servir.»
Gabriel García Marquez, in 'Viver para Contá-la'