terça-feira, 17 de abril de 2018

...50 anos...

(se quiser escutar a canção que diz muito do que sinto, desligue o player no fim do blogue)
 
Nasci num dia de sol, em Lourenço Marques (atual Maputo), em Moçambique, vivi meus primeiros 3 anos de vida dentro de uma felicidade enorme, um pai e uma mãe maravilhosos, eram o meu mundo, rodeado sempre de muito amor, carinho, desejo, ternura, saúde, felicidade, alegria, cedo e tal como era o meu amor pelo mar, meus pais me colocaram numa escola de natação e aos 3 anos já nadava como um "peixinho", como diziam não só meus pais, mas a professora de natação, que também afirmava que eu gostava mais de nadar de baixo d'água que ao de cima, que embora as técnicas de nadar de baixo d'água fossem de uma forma eu havia criado a minha própria forma de me manter debaixo d'água nadando sem mover os braços e pouco muito pouco as pernas, usando o corpo como um todo e me movimentando usando como um "peixinho" e assim foi e assim ficou sempre até aos dias de hoje, enfim, estórias que me contaram já depois de um pouco mais crescido, mas que a ver por aquilo que faço hoje, são verdade.
Cresci rodeado pelo mundo da música, da rádio, do teatro, do espectaculo, ou meus pais não trabalhassem os dois nesse meio, e tudo sempre começava em casa, num estudio construido de proprosito para juntar artistas, fazer gravações, preparações de textos e de som que só depois de aprovados por minha mãe, pois meu pai sempre dizia que a sua melhor critica em tudo era a sua mulher, a minha amada mãe. E assim era sempre.
Depois começaram os pequenos e primeiros problemas de saúde, aos 4 anos anos, na sala de aula ao percorrrer o caminho entre a minha mesa e a secretária da professora, escorreguei e segundo dizem bati fortemente com a cabeça numa quina de outra mesa e perdi os sentidos e assim fiquei por algum tempo até recuperar os sentidos, mas não me lembrava de nada, do que se havia passado, segundo os médicos seria devido à forte pancada na cabeça que eu havia perdido alguns minutos de memória que poderiam voltar ou não, mas nem tudo ficou por aí, tempos mais tarde fui acometido de fortes dores de cabeça que não passavam, fui levado várias vezes para o hospital, foram feitos vários exames, uns diziam uma coisa, outros outra, e claro, meus pais, não se ficaram por aí e decidiram viajar para África do Sul para novos exames, e foi aí que me dignosticaram disritmia cerebral e lapsos de memória possivelmente desenvolvidos e com pancada que havia dado na escola. fui medicado e seguido sempre por médicos mesmo quando regressei a Moçambique, e a vida foi continuando até aos 6 anos e alguns meses, quando a guerra estourou e tivemos de fugir, eu de nada me apercebi, tal fosse o amor e carinho de meus pais, que me disseram virmos passar férias a Lisboa com o resto da família que vivia toda, ou quase toda ali.
E assim foi, mas chegados a Lisboa e já meios instalados comecei a achar as coisas estranhas, faizia muitas perguntas, que sempre tentatavam amenizar com respostas para que eu não sofresse um choque forte, mas tal como minha mãe sempre dizia, "este quando mete uma coisa na cabeça, não há nada que a tire até sentir que sabe tudo bem" e assim foi, chegados ao mês de setembro, e em vez de passarmos os meus anos junto da família, meus pais resolveram aceitar a oferta de que um casal amigo lhes havia feito, e assim foi, fomos os 3 passar o mês de setembro para perto de Faro, e pronto..., foi aí, eu disse, logo, o que é que vocês me estão a esconder, que se passa?, porque não passo meus anos com as tias e primo?
Claro..., a verdade teve de vir toda ao de cima, e fui acometido de um forte ataque epilético, e me levaram de urgência para o hospital e depois para um outro em Lisboa, onde me fizeram um monte de exames, e desde aí... a vida pareceu cair mais e mais a cada ano que passava
Chegou o ano de 1975, e um dos meus maiores sonhos da vida se concretizava, nascia a irmã, que eu tanto, mas tanto havia pedido a Jesus e à minha mãe, lembro-me tão bem destas palavras de minha mãe "...mas Álvarinho e se for um menino?, ..." ao que eu prontamente respondia, "vou ama-lo muito mesmo, mas sei que vai ser menina", e assim foi nasceu uma menina, quando fui visitar no mesmo dia que ela havia nascido à noite, no quarto onde minha mãe estava havia um crucifixo com Jesus, e eu mal entrei olhei, vi o crucifixo e agradeci a Jesus, e só depois corri para a minha mãe e minha irmã...
De tudo fiz para a protejer, fosse do que fosse, os anos foram passando e ela era para mim, a minha joia preciosa junto com minha mãe, meu pai entretanto em 1979 separava-se de minha mãe, e foi um dos mais duros golpes da minha vida, minha saúde agravou bastante, mas nem por isso deixei de tudo fazer para proteger e ajudar no que pudesse a minha mãe e minha irmã...
Anos se passaram, e muita coisa aconteceu em minha vida privada e intima, não só a saúde piorava, mas outras coisas me aconteceram, coisas essas que escondi de tudo e de todos.
Aos 18 anos consegui, com a ajuda de minha mãe e de outras pessoas partir de novo para Lisboa, onde trabalhei e onde lutei muito para conseguir ser feliz, sem nunca deixar de continuar a visitar minha mãe e minha irmã, trazer prendas de todo o tipo, ou enviando de Lisboa para Ponta Delgada, mas os anos passaram e a alegria teve curta duração, tive de regressar, desempregado, tentanto não perder a esperança, e mantendo a cabeça erguida, mas nada nesta vida é assim tão facil, em especial para quem havia regressado a um lugar onde lhe haviam roubado toda a a sua inocência, e apesar de lutar para ninguém nunca saber, por dentro meu mundo se desmoronava...
Em 1996 minha irmã casava e anos mais tarde eu me tornava um tio babado, parecia que tudo estava bem, mas não, cá dentro, bem escondido, até de mim, um "vulcão de emoções" esperava por rebentar...
2003, 2004, 2005, 2006...,2013 morria meu pai, meu mundo se desmoronou, logo minha duas tias maternas, também partiam e pouco depois os médicos diagnostificavam a doença de Alzheimer em minha mãe.
Em 2017 meu tio materno partia também.
Meus problemas de saúde pioravam a cada mês, a cada ano, a cada momento e eu os ocultava, afinal, minha mãe vinha primeiro, ela era e é o anjo que Deus me deu para ser a minha mãe e eu só a tinha a ela, mais ninguém, nossa quantas vezes como cuidador de uma pessoa com esta doença eu quase enlouquecia...
A cada ano que passava meu estado de saúde piorava mais e mais, mas que podia eu fazer?, ajuda?, não tinha, amigos?, onde (tinha uma, que se tornou na irmã que eu tanto desejei).
Minha mãe, precisava cada vez mais e mais de mim...
Os últimos anos, da minha saúde, já quase nada restava, mas a força de cuidar do meu anjo me fazia querer viver, eram corridas para o hospital, eram noites sem dormir, era muito amor que nos unia há 50 anos...
Mas, mal sabia eu..., na noite de 25 para 26 de janeiro de 2018 perdia tudo...
Deus levou minha mãe para junto DELE.
Estou só... tenho sim, Deus, mas a tristeza, a agonia, a solidão, a falta de saúde... como refazer-me...?

Álvaro Gonçalves Correia de Lemos

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