quinta-feira, 26 de abril de 2018

Quando Eu For Pequeno (mãe, está fazendo 3 meses que Deus te levou para junto Dele)

 
Quando eu for pequeno, mãe,
quero ouvir de novo a tua voz
na campânula de som dos meus dias
inquietos, apressados, fustigados pelo medo.
Subirás comigo as ruas íngremes
com a certeza dócil de que só o empedrado
e o cansaço da subida
me entregarão ao sossego do sono.
Quando eu for pequeno, mãe,
os teus olhos voltarão a ver
nem que seja o fio do destino
desenhado por uma estrela cadente
no cetim azul das tardes
sobre a baía dos veleiros imaginados.
Quando eu for pequeno, mãe,
nenhum de nós falará da morte,
a não ser para confirmarmos
que ela só vem quando a chamamos
e que os animais fazem um círculo
para sabermos de antemão que vai chegar.
Quando eu for pequeno, mãe,
trarei as papoilas e os búzios
para a tua mesa de tricotar encontros,
e então ficaremos debaixo de um alpendre
a ouvir uma banda a tocar
enquanto o pai ao longe nos acena,
lenço branco na mão com as iniciais bordadas,
anunciando que vai voltar porque eu sou
pequeno
e a orfandade até nos olhos deixa marcas.
 
José Jorge Letria, in "O Livro Branco da Melancolia"

(Mãe, está fazendo nestes instantes desta madrugada que junto a ti, te senti  e te vi parti em meus braços, sei que foi Deus que te chamou para junto Dele, mas a cada dia, a cada minuto, a cada momento, a cada virar de esquina, a cada vez que acordo depois de já ter conseguido dormir 2 a 3 horas em constantes pesadelos, é a ti que procuro, que Deus me perdoe, pois ELE está acima de tudo e de todos, mas também sei que ELE sabe e me compreende. AMO-TE e AMAR-TE-EI para sempre, e sei que muito brevemente estaremos todos juntos.
Louvado sejas TU meu Deus, meu PAI eterno.)

Álvaro Gonçalves Correia de Lemos Aka Álvaro Gonçalves

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