domingo, 9 de setembro de 2012

O Dever para Nós Próprios
"Influenciar uma pessoa é dar-lhe a nossa própria alma. O indivíduo deixa de pensar com os seus próprios pensamentos ou de arder com as suas próprias paixões. As suas virtudes não lhe são naturais. Os seus pecados, se é que existe tal coisa, são tomados de empréstimo. Torna-se o eco de uma música alheia, o actor de um papel que não foi escrito para ele. O objectivo da vida é o desenvolvimento próprio, a total percepção da própria natureza, é para isso que cada um de nós vem ao mundo. Hoje em dia as pessoas têm medo de si próprias. Esqueceram o maior de todos os deveres, o dever para consigo mesmos. É verdade que são caridosas. Alimentam os esfomeados e vestem os pobres. Mas as suas próprias almas morrem de fome e estão nuas. A coragem desapareceu da nossa raça e se calhar nunca a tivemos realmente. O temor à sociedade, que é a base da moral, e o temor a Deus, que é o segredo da religião, são as duas coisas que nos governam."

Oscar Wilde
O Retrato de Dorian Gray



Nos dias de hoje, com as corridas, de casa para o trabalho, o “dever” que sentimos de sermos “perfeitos” numa sociedade imperfeita que nos exige cada vez mais, a concorrência entre os seres, a vontade de ultrapassar os limites do outro e de nós mesmos, o medo, quase que terror de perdermos, nos leva a tomadas de decisão precipitadas que com o passar do tempo nos transformam em robôs, em fantoches de uma peça de teatro que não é a nossa, mas uma peça escrita por outros, outros esses que já não sabem onde perderam a sua alma, as suas vidas, deixadas ao acaso num beco perdido algures da vida lá bem atrás num passado que nem eles próprios sabem onde.
O medo de morrermos sem termos vivido tudo a que temos direito, o horror de não termos tudo aquilo que julgamos termos direito, só porque esse algo existe e algum outro ao nosso lado o tem e nós também o desejamos, mas que por um mero acaso não se encontra ao nosso alcance naquele momento, leva-nos a tomadas de decisão de num desenfrear de corridas loucas e egoísmos que nos destrói a cada passo dado no caminho de um precipício da qual muitos não voltam mais. O medo do que a sociedade pode pensar de nós se não fizermos isto ou aquilo, se não formos isto ou aquilo, leva-nos a cometer-mos “suicídio” das nossas almas já presas a uma moral podre, da qual não conseguimos vislumbrar saídas para mais nada a não ser pegar a vida de uma tal forma que nos encaminha cada vez mais a becos sem saída, a tristezas e por vezes a profundas perdas de consciência de que sim, temos direito a tudo que a vida nos oferece, mas para isso não precisamos atropelarmo-nos uns aos outros, a egoísmos e a uma profunda falta de valores que em tempos, lá bem num passado já longínquo já tivemos.
Tudo isso faz de nós seres humanos hoje em dia bonecos autómatos.
Então o que fazer perante tanto desgaste, nesta vida de hoje que nos conduz a passos largos para um auto destruição?
PARE!
OLHE-SE no espelho, não aquele espelho físico no qual você se olha para se pentear ou ver se esta ou aquela peça de roupa lhe cai bem, mas naquele ESPELHO INTERIOR, aquele espelho já há muito sujo de tanto pó de anos deixado ao acaso por não nos olharmos e o limpe, veja o que você fez consigo, pare por momentos, risque da sua vida muita coisa que o perturba, deixe que os outros gritem, que não o largam com tentações de querer mais e mais, que lhe cobram, deixe de se cobrar por ainda não ter, fique um pouco a sós consigo mesmo, respire fundo, tente ver o que você fez da sua vida, será que valeu a pena perder tanta coisa linda e simples por tantas outras que você sentiu necessidade porque o outro tem, ou porque também você tem direito, mas que ao correr tanto acaba por perder o tempo de viver, sim VIVER.
Acredite, todos nós sempre passamos por essa fase maldita da corrida para termos tudo e muitas das vezes acabamos sem nada, acabamos sós, sim, porque aquele “amigo” a quem você chama de amigo não é senão por vezes um parasita que o ajuda a cair em tentação de sobreviver e não viver.
Acredite que só porque você tem muito, não significa que você vai sempre ter, um dia chega e você perde, você fica só, com tudo, ou com nada, e ai?, de que lhe valeu tanta corrida.
Bem sei que é fácil falar, mas de fazer é bem mais difícil, digo-o por experiencia própria, mas também quem disse que tudo tem de ser fácil?
Pense um pouco no que lhe falo, e só você pode decidir se quer continuar “vivendo” ou regressar à VIDA.
A resposta a tudo isso está em si, somente em si, e decisões só você pode tomar por si mesmo.


Álvaro Gonçalves



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